Andei pela Fnac a vasculhar mais uns livritos para preencher a minha estante e, ao desfolhar algumas páginas, encontrei um que me despertou especial atenção pelo tema desenvolvido. “Senhores do Medo” é um livro de Maria de São Pedro onde são reflectidas verdadeiras histórias de vida de pessoas que ao longo do tempo foram vítimas de violência doméstica. É sobretudo um livro que dá voz ao sofrimento que por uma ou outra razão é muitas vezes abafado. São vozes de força, coragem e mudança. Deixo-vos um relato que realmente me impressionou e fez questionar mais uma vez sobre a justiça de um crime deste tipo:
“Tenho 49 anos e estou presa porque matei o meu marido. Estou em prisão preventiva e recusei advogado de defesa. Defesa para quê? De quê? De quem? Matei o monstro que me espancou e violou de todas as formas e feitios durante vinte e sete anos. Um dia perdi o MEDO. Esperei que adormecesse e esfaqueei-o vinte sete vezes. Uma facada por cada ano roubado da minha vida. Estou serena. Nunca me senti tão tranquila na minha vida. Vivo numa prisão onde sou respeitada. Onde tenho alimento. Onde ninguém me viola ou espanca. Consigo sentir-me feliz e durmo tranquila como não dormia há vinte e sete anos.”
A violência doméstica é um crime público que, ao contrário do que se possa imaginar, não afecta apenas uma determinada classe social, é um fenómeno transversal. É praticado por agressores que se impõem pela manipulação física, psicológica ou sexual exercida sobre a mulher. Apesar de estarmos mais habituados a conviver com agressores do sexo masculino, existem agressoras do sexo feminino provavelmente ainda mais secretas.
Este é um livro que nos permite perceber como e porque se aguentam vidas dramáticas, a cegueira das vitimas que não lhes permite encontrar uma saída porque teimam em questionar o inquestionável, mergulhadas na ambiguidade dos afectos e da racionalidade, da vergonha e do medo, da certeza e da dúvida, do desespero e da esperança de mudança. Por outro lado, é um livro que nos obriga a questionar a justiça da prisão de alguém que basicamente é obrigada a matar para sobreviver. Será que qualquer um de nós não teria o mesmo instinto perante a mesma situação? Seríamos por isso todos criminosos? Por trás de cada máscara ou maquilhagem utilizada para cobrir cada marca de uma nódoa negra ou de um arranhão existe um enorme peso que massacra até ao limite. Os autores de violência doméstica delineiam cada passo, cada agressão, conhecem perfeitamente o seu papel nesta história. As vítimas de violência apenas respondem ao seu limite. São ambos dignos do título “criminosos”?
Para evitar este tipo de situações limite, a nós, que assistimos por fora, resta-nos o dever de denunciar não apenas como cidadãos mas sobretudo como meros seres humanos que correm o mesmo risco.
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Este blog é formado por três seres deste planeta chamado Terra que buscam através dos relatos das vivências do dia-a-dia, conversar, comentar e criticar todos os assuntos que lhes passarem pelas suas mentes brilhantes. Se desejar deixar alguma contribuição neste blog faça o favor de o fazer! Rita x Catarina x Filipa
2 Comments:
quero ler.... :)
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Anónimo, at sábado, agosto 26, 2006 9:15:00 da manhã
Uma chamada de atenção importante, amiga *
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Rita, at sábado, setembro 02, 2006 3:04:00 da tarde
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